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Dez Observações Importantes sobre a Vida de Cristo (Parte 3)

Por Doug Bookman
Professor de Antigo e Novo Testamentos e Exposição Bíblica (Shepherds Theological Seminary)
Publicado em 09 de abril de 2020

Esta é a terceira de três partes que formam a série intitulada “Dez Observações Importantes sobre a Vida de Cristo”. Ler a primeira e ler a segunda.

O filho de Deus se beneficia grandemente quando adquire uma compreensão adequada da vida do seu Salvador. Visando melhor compreender a vida de Jesus Cristo, sugiro que o crente inclua as seguintes observações enquanto pondera a vida do Salvador, especialmente neste período de Páscoa. Nas duas primeiras partes deste artigo, destacamos seis observações:

  1. Em sua encarnação, Jesus Cristo, em sentido, grau, momento ou época alguma, abdicou de sua divindade (Colossenses 2.9);
  2. O ministério de três anos e meio de Jesus é melhor entendido como compreendendo duas ênfases distintas—uma Apresentação Pública e uma Preparação Particular;
  3. No decorrer de seu ministério público, Jesus fez duas alegações explícitas acerca de si mesmo—ele afirmou ser o Messias de Israel (o Cristo) e afirmou ser Deus vindo em carne (Mateus 16.16; Marcos 14.61; João 11.27);
  4. O propósito dos muitos milagres que Jesus realizou foi comprovar suas alegações profundamente difíceis de aceitar acerca de sua identidade (conf. João 3.2; Atos 2.22);
  5. A rejeição das alegações de Jesus não decorreu de ignorância, mas de rebelião (João 2.11); e
  6. Jesus proferia palavras duras que exigiam dos ouvintes uma escolha—a escolha moralmente correta sinalizando obediência/fé—, bem como um preço elevado a ser pago por aquele que fazia a escolha certa.

Finalmente, sugiro que o crente que deseja compreender melhor a vida de Jesus Cristo considere atentamente estes últimos quatro insights.

Sétimo: Apesar de Jesus ter vindo para morrer, ele nunca falou explicitamente sobre sua morte até quase a marca de três anos de seu ministério de três anos e meio

Em somente uma ocasião, ele ventilou a ideia indiretamente—quando falou sobre o templo ser reconstruído em três dias. Conforme João, os discípulos só entenderam ao que Jesus se referiu após a ressurreição (João 2.19–21). Jesus alegou ser o Messias e, segundo as Escrituras judaicas, o Messias estabelecerá um reino eterno (Daniel 2.44). Para os que aceitaram as afirmações de Jesus, as Escrituras não pareciam abrir espaço para um Messias morto. Quando o Senhor finalmente orquestrou uma maneira de conduzir os doze para um lugar chamado Cesareia de Filipe e lhes revelou pela primeira vez que iria morrer (Mateus 16.21), os discípulos se escandalizaram (v.22). Embora Jesus tenha predito sua morte e ressurreição pelo menos quatro vezes após o incidente em Cesareia de Filipe, ninguém acreditou em suas palavras, especialmente os discípulos (Lucas 18.31–34). A única aparente exceção foi Maria, irmã de Lázaro (João 12.7). Essa indisposição para aceitar as predições claras e frequentes que Jesus fez acerca de sua morte e ressurreição parece ter sido resultado de duas influências. Primeiro, os discípulos estavam debilitados pelo equívoco rabínico popular em relação à esperança messiânica, a qual deixava pouco ou nenhum espaço para um Messias que passaria por sofrimento e morte. E segundo, os discípulos buscavam gananciosamente os melhores lugares no reino que Jesus lhes prometia. Por isso, não queriam saber de sofrimento, nem para Cristo, nem para si mesmos.

Oitavo: A crescente fascinação popular com Jesus impactou o ministério de Cristo de forma importante

Jesus continuou sendo um herói muitíssimo popular entre as massas, o objeto de fascinação quase generalizada, até a última semana de sua vida terrena. Essa popularidade cresceu gradualmente, até que implodiu na terça-feira da Semana da Paixão. Essa fascinação popular persistente e crescente impactou o ministério de Cristo de três formas importantes.

Primeiro, essa fascinação enganou os discípulos de Jesus, levando-os a acreditar que, de fato, as afirmações de Jesus eram amplamente aceitas. Esse engano impediu os discípulos de aceitarem as predições de Jesus de que morreria nas mãos dos líderes da nação de Israel.

Segundo, essa fascinação possibilitou a Jesus escapar do ódio homicida nutrido por seus inimigos oficiais. Eles desejavam profundamente mata-lo, mas não podiam porque temiam o povo e para que não haja alvoroço entre o povo (Lucas 22.2; conf. Mateus 26.5; Marcos 14.2). Essa dinâmica foi um tanto peculiar ao Império Romano; por isso, precisa ser explicada. Todo governador romano tinha duas responsabilidades fundamentais: coletar os impostos e manter a ordem. Apesar de os romanos não permitirem os judeus praticarem a pena capital (João 18.31), os oficiais romanos na Judeia tinham aprendido a fechar os olhos e a ignorar a situação quando os judeus matavam um ofensor insignificante, como no caso de Estêvão (Atos 6–7). Pelo fato de Jesus ser tremendamente popular, as autoridades judaicas não podiam simplesmente prendê-lo e o apedrejar. Eles temiam que, se fizessem isso, causariam motins e revoltas. Se houvesse revoltas, os romanos encontrariam e puniriam severamente os instigadores (nesse caso, os próprios líderes judeus).

Por conseguinte, em terceiro lugar como consequência da fascinação popular com Jesus, os inimigos de Cristo se viram forçados a envolver os romanos na execução do Messias. Além disso, esses inimigos fizeram todo o possível para pendurar Jesus na cruz antes que a população acordasse na sexta-feira. Afinal, a Semana da Paixão havia se iniciado com o nível de popularidade de Jesus nas alturas. Entretanto, quando a população acordou, os membros do Sinédrio se espantaram e regozijaram ao ver que as multidões de repente tinham se voltado contra Jesus.

Nono: No decorrer do seu ministério, mas especialmente quando a Paixão se aproximava, Jesus demonstrou ser “prudente como as serpentes e símplice como as pombas” (Mateus 10.16)

Em pelo menos três formas específicas e distintas, Jesus orquestrou os eventos de sua Paixão para que se desdobrassem precisamente como e quando o Pai projetou. Primeiramente, por meio da ressurreição de Lázaro (João 11.45–57) e depois da rota que tomou da vila de Efraim (João 11.54) para Jerusalém (Lucas 17.11), Jesus preparou o palco para a Entrada Triunfal, animando a cidade com sua chegada (João 11.55–56) e alertando-a quanto ao momento de sua chegada (João 12.12). Em segundo lugar, por meio de uma segunda purificação do Templo na segunda-feira da Semana da Paixão, Jesus deliberadamente galvanizou a hostilidade dos fariseus e saduceus. Uma vez unidas com seu ódio homicida contra Jesus, essas duas seitas precisaram de apenas cinco dias para pendurá-lo na cruz. E terceiro, por meio da manutenção cuidadosa da popularidade em meio às massas, Jesus garantiu que os membros do Sinédrio tivessem que envolver os romanos em sua execução, a fim de que morresse não por apedrejamento, mas sendo levantado numa cruz (conf. João 3.14; 8.28; 12.32–34; 18.32).

Décimo: O prospecto da cruz foi algo terrível para Jesus

No princípio do seu ministério, Jesus conseguiu aguardar a cruz com certa medida de tranquilidade (João 4.34). Todavia, conforme a cruz se aproximava, ela enchia Jesus de terror (conf. João 12.23–38). Na realidade, a tentação mais severa que Jesus enfrentou durante sua vida terrena foi a de dar as costas para a cruz (Mateus 4.8–9; 16.22–23). Essa tentação é vista de forma mais vívida na experiência do Senhor no Jardim do Getsêmani (Lucas 22.41–44). No entanto, o aspecto mais terrível para ele não foram os sofrimentos físicos da crucificação, por mais tenebrosos que fossem. Ao invés disso, ele ficou tomado de horror com o prospecto de se tornar sacrifício de pecado pelos homens, de ser judicialmente separado do Pai (Marcos 15.34). Ademais—e algo que geralmente temos a tendência de ignorar—, nessa tentação e durante todo o tempo de sua vida mortal, Jesus não desfrutou de recursos espirituais além do que eu e você temos. Ele era submisso ao Pai, dependente do Espírito, obediente às Escrituras e sustentado pelas orações (Hebreus 5.7). Foi assim que ele aprendeu a obediência e se qualificou para ser o Sumo Sacerdote de todo crente (Hebreus 5.8–9).

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