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Dez Observações Importantes sobre a Vida de Cristo (Parte 2)

Por Doug Bookman
Professor de Antigo e Novo Testamentos e Exposição Bíblica (Shepherds Theological Seminary)
Publicado em 06 de abril de 2020

Esta é a segunda de três partes que formam a série intitulada “Dez Observações Importantes sobre a Vida de Cristo”. Para ler a primeira postagem, clique aqui.

O filho de Deus se beneficia grandemente quando adquire uma compreensão adequada da vida do seu Salvador. Visando melhor compreender a vida de Jesus Cristo, sugiro que o crente inclua as seguintes observações enquanto pondera a vida do Salvador, especialmente neste período de Páscoa. Na primeira parte deste artigo, destacamos três observações:

  1. Em sua encarnação, Jesus Cristo, em sentido, grau, momento ou época alguma, abdicou de sua divindade (Colossenses 2.9);
  2. O ministério de três anos e meio de Jesus é melhor entendido como compreendendo duas ênfases distintas—uma Apresentação Pública e uma Preparação Particular; e
  3. No decorrer de seu ministério público, Jesus fez duas alegações explícitas acerca de si mesmo—ele afirmou ser o Messias de Israel (o Cristo) e afirmou ser Deus vindo em carne (Mateus 16.16; Marcos 14.61; João 11.27).

Agora, desejo chamar sua atenção para três outros insights que devem fazer parte de nosso entendimento da vida de Cristo.

Quarto: O propósito dos muitos milagres que Jesus realizou foi comprovar suas alegações profundamente difíceis de aceitar acerca da sua identidade (conf. João 3.2; Atos 2.22)

À luz desse propósito, os milagres foram frequentes durante a fase inicial do ministério de Cristo quando seu objetivo era se apresentar à nação de Israel como seu Messias (ou seja, os primeiros dois anos e meio). Na segunda metade do último ano do seu ministério (isto é, durante o tempo em que Jesus buscou isolamento com os discípulos a fim de lhes revelar o fato perturbador e inacreditável de sua morte e ressurreição), Jesus relutou em realizar milagres e evitou a notoriedade que sempre acompanhavam seus sinais. Por outro lado, quando se tornou algo estrategicamente importante, Jesus novamente realizou maravilhas. O maior de todos os milagres que fez, e portanto o milagre que o vindicou de forma mais dramática e notável, foi sua própria ressurreição corpórea do túmulo ao terceiro dia após sua morte e sepultamento (Romanos 1.4).

Quinto: A rejeição das alegações de Jesus não decorreu de ignorância, mas de rebelião (João 2.11)

Rejeição oficial surgiu logo no início do seu ministério e se agravou gradualmente, até que culminou na crucificação. Os dois maiores momentos de rejeição—os dois eventos que representam o ponto de mudança na estratégia ministerial de Jesus—foram os episódios do pecado imperdoável (Mateus 12.22–37, especialmente v.23) e, posteriormente, a multiplicação dos pães e peixes (João 6, especialmente, v.66). Por outro lado, rejeição popular, embora tão real quanto a oficial, era muito mais difícil de discernir. Isso principalmente porque, apesar de as multidões a quem Jesus se ofereceu como Messias não crerem em suas alegações, ele continuou sendo um herói popular inigualável. Somente Jesus conseguia discernir o verdadeiro coração das multidões (ver observação número 8 mais adiante).

Sexto: Jesus proferia palavras duras que exigiam dos ouvintes uma escolha—a escolha moralmente correta sinalizando obediência/fé—, bem como um preço elevado a ser pago por aquele que fazia a escolha certa

Pelo fato de a nação judaica estar sob o jugo pesado do senhorio romano e pelo fato de Jesus, que alegava ser o Messias, demonstrar poder para realizar milagres, os compatriotas de Jesus insistiam, repetidamente, que estavam dispostos a tê-lo como Messias/Libertador. O problema era que o queriam segundo seus próprios termos, não segundo os termos propostos por Jesus. Mais especificamente, eles estavam dispostos a reconhecer que precisavam de alguém para os libertar de Roma, mas negavam que precisavam de alguém para os libertar do pecado. Por isso, no decorrer do seu ministério, Jesus empregou uma estratégia extraordinária para desmascarar a natureza superficial e hipócrita dessa adulação pública que as multidões lhe prestavam: o Senhor proferia palavras duras que exigiam dos ouvintes uma escolha—a escolha moralmente correta sinalizando obediência/fé—, bem como um preço elevado a ser pago por aquele que fazia a escolha certa.

A fim de colocar sua plateia nessa posição que envolvia uma decisão difícil, com frequência Jesus utilizava os oponentes fariseus para servir de contraste. Ele fazia isso por dois motivos. Primeiro, os fariseus haviam se estabelecido como os propagadores da doutrina das obras de justiça (isto é, a observação da Lei). Por isso, a exigência que Jesus fazia para os homens aceitarem sua alegação de ser o Messias (o Libertador do pecado enviado por Deus, conf. Gênesis 3.16) envolvia, necessariamente, a rejeição da doutrina farisaica prevalecente. E segundo, rejeitar o conselho dos fariseus podia culminar em terrível retaliação (expulsar das sinagogas, conf. João 9.22, 34–35). Por isso, ao fazer sua exigência, Jesus testava a autenticidade do desejo que as multidões tão facilmente manifestavam de aceita-lo como Messias. Podemos citar três exemplos de Jesus empregando essa estratégia: a) ao desafiar as multidões que o seguiam na Galileia quando pregou o Sermão do Monte (Mateus 5.20; conf. 7.13–15); b) ao desafiar aqueles que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei após a multiplicação dos pães (João 6.15; conf. 53–58); e c) ao desafiar a disposição da cidade de Jerusalém para proclamá-lo Rei, conforme imploraram na ocasião da Entrada Triunfal (Mateus 23.1–39).

Parte 3 a seguir em breve.

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