Publicado em 6 de outubro de 2019

Devocionais Sabedoria

Encontro Marcado (Parte 3)

Em nossos dois devocionais anteriores, passamos a observar o encontro de Deus com Moisés à medida que Ele começa a agir soberanamente a fim de realizar Seus propósitos na vida do povo escolhido, Israel. Vimos que Deus desenvolve Seu plano tomando algumas atitudes em Êxodo 3–4, a partir das quais extraímos lições importantes para nossas vidas. Destacamos as duas primeiras atitudes (Êxodo 3.1–6): a) a fim de realizar seus propósitos, Deus se encontra conosco onde estamos, em meio à correria de nossas vidas, para chamar nossa atenção, a fim de nos levar a adorá-lo; e b) após chamar nossa atenção, Deus apresenta necessidades diante de nós (Êxodo 3.7–9).

Apesar de ser um enorme privilégio saber que Deus decidiu incluir nosso serviço enquanto cumpre Seus propósitos soberanos e eternos, ficamos facilmente intimidados diante da obra a ser realizada. Podemos nos sentir incapazes ou simplesmente indispostos a ser usados por Deus.

Foi exatamente assim que Moisés se sentiu. O Senhor, em contrapartida, toma a terceira atitude a fim de realizar Seus propósitos soberanos: Deus fornece provisões ao seu servo (Êxodo 3.11–4.17).

Deus fornece provisões primeiramente porque somos incapazes de executar Sua vontade. Neste encontro entre Deus e Moisés na sarça ardente, o motivo principal é que Moisés está indisposto e resiste servir a Deus. Conforme a narrativa progride, progridem também as objeções de Moisés. Elas são como uma cebola: removemos camada após camada para chegar ao cerne da questão. Para cada objeção que Moisés levanta, Deus fornece uma provisão que anula a objeção e gradualmente encurrala Moisés. Deus neutraliza todas as objeções e Moisés fica sem desculpas.

A primeira objeção aparece em 3.11: “Então, disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?” Deus responde no verso 12a: “Eu serei contigo.” A primeira provisão de Deus é Sua presença—“Eu serei contigo”. Moisés enxergou impossibilidades porque olhava para um homem—Faraó, o indivíduo mais poderoso da terra. Deus diz, com efeito: “Olhe para mim, não para Faraó”.

O crente também recebeu a provisão da presença do Senhor para realizar a obra de Deus: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos” (Mateus 28.20). Paulo experimentou dessa maravilha quando se via aflito em Corinto. Cristo lhe disse: “Não temas… eu estou contigo” (Atos 18.9–10). Enquanto olharmos para homens, sejam eles nós ou nossos adversários, continuaremos enxergando impossibilidades, as quais nutrirão não só nosso senso de incapacidade, mas também nossa indisposição para servir.

Para Moisés, a presença de Deus não foi suficiente. Por isso, ele levanta uma segunda objeção no verso 13: “Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?” Deus retruca: “Eu Sou o Que Sou” (Êxodo 3.14 e seguintes).

Moisés pede a carteira de identidade de Deus e Deus responde com a segunda provisão: não é Sua identidade, mas Sua pessoa. Moisés pergunta pelo nome de Deus porque todos os deuses egípcios tinham nomes e seus nomes estavam vinculados à função que detinham. Moisés sabia que os israelitas no Egito fariam esta pergunta: “Quem é esse Deus e o que ele faz?” A resposta de Deus corrige essa perspectiva egípcia, tanto de Moisés como dos israelitas: “Eu sou Yahweh, o Deus dos Patriarcas”, isto é, “Sou o Deus eterno e fiel”. A resposta de Deus não foca em Sua identidade, mas em Seu caráter e pessoa. A identidade de Deus é o Seu caráter eterno. Nenhum nome é capaz de transmitir Sua essência.

Como crentes, precisamos constantemente de um reajuste de perspectiva. Talvez não sejamos influenciados por idolatria egípcia, mas somos influenciados por um modo de pensar que enfatiza o aspecto lógico e racional dos eventos em torno de nossas vidas, de forma que enxergamos tudo de maneira mecânica. Como resultado, acabamos nos esquecendo de que existe um Deus ciente de nossa vida e soberanamente envolvido nela em seus aspectos mais triviais. O que somos, realizamos e possuímos não depende exclusivamente do que ocorreu no passado; Deus teve e tem papel fundamental naquilo que somos, fazemos e possuímos hoje, e tudo quanto realiza é o melhor para nós.

Insatisfeito com a presença e a pessoa de Deus, Moisés levanta uma terceira objeção: “Mas eis que não crerão, nem acudirão à minha voz, pois dirão: O SENHOR não te apareceu” (Êxodo 4.1). Deus fornece a terceira provisão: Seu poder (Êxodo 4.1–9). Esse poder vem em forma de sinais: o cajado se transforma em serpente, a mão fica leprosa e a água do Nilo vira sangue. Esses sinais serviriam para Moisés autenticar seu ministério profético e liderança entre os israelitas; ele os realizaria somente se não cressem em sua palavra (o mesmo se aplicou aos sinais e maravilhas do Novo Testamento, os quais serviram para autenticar o ministério e ensino dos apóstolos). O poder de Deus capacitaria Moisés a realizar o plano soberano do Senhor.

Semelhantemente, o crente possui um poder especial. Jesus Cristo anunciou em Atos 1.8: “Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”. Com esse poder, podemos ser testemunhas da verdade do evangelho. De fato, esse poder do Espírito transformou os discípulos de homens covardes que se escondiam no escuro e por trás de portas que vemos nos Evangelhos em homens audaciosos e ousados que vemos em Atos.

Moisés, contudo, permanece incansável em suas desculpas e lança mais uma objeção: “Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Êxodo 4.10). Deus responde com mais uma provisão: Sua promessa (Êxodo 4.10–12). Já que Estêvão afirma em sua pregação que Moisés era treinado na fala (Atos 7.22), é possível que Moisés subestima propositadamente sua capacidade. Deus fala que ele não precisa se preocupar: “Eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Êxodo 4.12).

Finalmente, percebendo que não tem saída diante de tantas provisões que Deus lhe fornece, Moisés revela o que realmente está no centro de sua vida: indisposição para servir a Deus. Ele reage em Êxodo 4.13: “Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim.” A cena conclui com Deus furiosamente mandando Moisés ir com o auxílio de Arão, seu irmão. Deus diz, com efeito: “Não quero saber se quer ir ou não. Já chega de objeções! Você irá porque estou mandando!”

Deus faz provisões aos Seus servos e, no processo, prova ser bastante paciente e longânimo com os teimosos. Moisés prova ser tão obstinado aqui quanto o povo que em breve liderará e lhe causará tanta dor. Enquanto Deus levanta um líder para efetuar soberanamente Seu plano perfeito, Ele também trabalha soberanamente no coração desse líder, Moisés. Ao mesmo tempo em que somos objetos usados por Deus para cumprir Seus propósitos, nós nos tornamos sujeitos ao agir soberano de Deus dentro de nós. Somos usados para transformar e somos ao mesmo tempo nós mesmos transformados. Se Deus nos escolheu para realizar uma obra, obediência é a única rota viável. Afinal, queremos contar com a alegria e o prazer, não com a fúria, de Deus.

Portanto, crente, à luz do princípio de que Deus usa Seus servos para cumprir Seus propósitos e das atitudes que Ele toma para realizar Seu plano, sugiro que você viva ciente da presença de Deus em sua vida, pois Ele pode muito bem encontra-lo hoje mesmo; viva ciente das necessidades que Deus apresenta diante de você, pois Ele pode muito bem querer usá-lo para supri-las; e viva ciente das provisões de Deus para você, pois é por meio delas que conseguirá realizar os propósitos soberanos do Senhor.

A verdade é que, quando aceitamos esses desafios e vivemos cientes desses fatos, ocorre um avanço em nosso entendimento de Deus. Avançamos de um Deus aparentemente distante para um Deus profundamente pessoal que se encontra conosco em nosso dia a dia; de um Deus pessoal para um Deus que deseja nos usar em Sua obra; e de um Deus que deseja nos usar em Sua obra para um Deus que realiza maravilhas através de nós para a Sua glória.

Obediência é a única rota viável para o crente. Afinal, queremos contar com a alegria e o prazer, não com a fúria, de Deus.

 
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