Artigos Sabedoria
Raça, Tumulto e o Evangelho
Por Stephen Davey
Pastor-mestre na Igreja Batista Colonial (Carolina do Norte, EUA)
Publicado em 08 de junho de 2020
de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação.
(Atos 17.26)
Antropologia é o estudo do desenvolvimento físico, social, material e cultural da humanidade. Contudo, muito tempo antes de as universidades criarem seus departamentos de antropologia, o Deus da antropologia criava, a partir de um homem só (Adão), todas as nações.
Segundo Gênesis 11, variações físicas começaram a revelar características singulares a partir do mesmo grupo de genes. Isso ocorreu à medida que as pessoas se juntavam após o evento da Torre de Babel e da diversificação dos idiomas (Gênesis 11). Essas características peculiares, reunidas em torno dos idiomas, no fim se tornaram comuns aos diferentes povos ou etnias que Deus orquestrou soberanamente.
Por exemplo, a quantidade de melanina na pele começou a se desenvolver dentro dos povos, de maneira que hoje vemos variação envolvendo pessoas rosas, escuras, marrons, amarelas e avermelhadas. Em algumas etnias, os povos têm olhos arredondados, enquanto em outras etnias os olhos são puxados. Alguns grupos são mais baixos do que outros. Alguns povos são conhecidos por seus cabelos escuros e outros pelos cabelos claros. Ainda outros simplesmente oram por cabelo!
Quem criou o potencial genético para diferenças físicas entre as muitas nações na terra? Deus criou. Agora, lembre-se de que, uma vez que a humanidade inteira procede de um casal original, existe somente uma raça. Existem nacionalidades e etnias diferentes, mas é incorreto afirmar que existem várias raças. Deus, em seu projeto maravilhoso para a raça humana, embutiu em nós o potencial genético para uma miríade de variedades físicas que agora são refletidas entre as nações.
Considere ainda que, mesmo com essas características nacionais e étnicas, nem sequer duas pessoas no planeta são idênticas. Cada indivíduo possui suas próprias digitais e traços únicos. Bancos e empresas de segurança conseguem determinar identidades simplesmente por meio das digitais, da retina e da voz. A verdade tremenda é que não existe outra pessoa na terra que se parece exatamente com você. Será que isso é um acidente ou resultado do processo evolutivo? Quem criou todos os bilhões de seres humanos formados de maneira singular? Paulo proclamou a verdade aos atenienses do século primeiro: foi o Deus Criador.
Em Atos 17, enquanto pregava que Deus criou todas as nações, Paulo confrontou a crença ateniense de que eles eram uma raça especial. Nos dias de Paulo, os gregos criam que haviam sido criados de forma especial pelos deuses a partir do solo grego; eles eram a raça superior. Paulo seca a raiz do seu orgulho ao lhes apresentar ao plano criativo de Deus, um plano no qual todas as nações descendem de apenas um homem original—Adão (Gênesis 1).
Isso significa que alemães não são superiores a judeus, japoneses não são superiores a chineses, europeus não são superiores a africanos. Na verdade, se você tem dificuldades com essa verdade e crê que é superior ao próximo por causa da sua nacionalidade ou da cor da sua pele, seu problema não é que não entende bem a antropologia. Seu problema é que não entende Deus! Você teria sido um bom ateniense. Conforme o plano de Deus, todos os seres humanos são, na verdade, parentes, tendo procedido dos mesmos pais—Adão e Eva.
Neste exato momento, o mundo experimenta profundo tumulto e ódio. A mensagem de Paulo relembra à igreja de hoje de que não devemos perder o foco em meio ao alvoroço. Devemos lembrar que erradicar pecados, ódio e discriminação da sociedade não é e nunca foi nossa missão. O apóstolo Paulo ficou profundamente triste com a idolatria que enchia Atenas. Historiadores contam que havia, na verdade, mais estátuas de ídolos do que cidadãos em Atenas. Diante de uma sociedade saturada de idolatria e discriminação baseada na suposta superioridade racial dos gregos, é importante analisar como o apóstolo reagiu. Se o problema tivesse sido simplesmente a idolatria, Paulo poderia ter saído às escuras numa bela noite, carregando uma marreta à mão, e destruído os ídolos em Atenas. Depois, ele se elogiaria por ter vencido a idolatria. Mas Paulo não identificou simplesmente a idolatria e o preconceito gregos; ele não pregou sermões sobre como os atenienses deveriam amar os persas e como todos deveriam conviver bem. Ao invés disso, ele se manteve firme e focado em apresentar o evangelho de Cristo àquela cultura. À parte do evangelho, os cidadãos juntariam os cacos dos ídolos destruídos por Paulo e criariam mais estátuas. De quebra, ainda continuariam odiando os persas depois da mensagem.
Semelhantemente, quando a igreja tenta remediar os problemas do preconceito e do ódio sem lidar com o pecado do coração, a solução que apresenta é apenas um esparadrapo. A ordem de Cristo para o crente não é reforma social, apesar de o evangelho verdadeiro transformar a sociedade. Nossa missão como igreja não é erradicar o mal da sociedade, embora vida justa seja fruto do evangelho genuíno. A missão da igreja é refletir Jesus Cristo para a nossa sociedade e proclamar o evangelho a um mundo confuso e tomado de ódio. Somente através de arrependimento e fé em Jesus Cristo as pessoas descobrirão e demonstrarão amor para com o próximo. Preconceito e intolerância somem ao pé da cruz porque o chão ao pé da cruz é plano.
O evangelho resolve o problema do orgulho étnico, da intolerância, do assassinato e do motim também ao redimir pecadores e os conformar à imagem de Cristo. Ou seja, tentar forçar as pessoas a amar umas às outras sem Cristo é uma solução temporária e utópica. Elas ainda estão sob a sentença do julgamento de Deus. Não me entenda errado. Não estou dizendo que é errado para o crente se preocupar em espírito de oração com sua cultura, falar a verdade em amor sobre o preconceito para vizinhos e colegas, servir na arena política ou trabalhar incessantemente para o benefício alheio. Como crentes, devemos promover a paz em nossas sociedades enquanto interagimos, ensinamos, servimos, e provemos e exemplificamos cuidado e preocupação para com o próximo. Todavia, realizar boicotes e manifestações no meio da rua ou em frente ao Congresso Nacional exigindo que o governo tome uma providência são atitudes direcionadas aos sintomas (comportamento pecaminoso) sem lidar com a solução (salvação).
Talvez você se sinta desconfortável diante das implicações destas perguntas, mas considere-as por um momento: Por que ficamos surpresos quando pessoas sem o amor de Cristo agem com ódio? E por que não agiriam assim? Por que esperaríamos que pessoas que negam o Criador amem ao próximo? Por que amariam? Por que ficamos chocados quando pecadores não redimidos pecam sempre que têm a oportunidade? E por que não pecariam?
E o que dizer da maneira como o mundo trata a igreja de Jesus Cristo? Porventura, não deveríamos esperar um tratamento melhor? Sinceramente, você não encontrará sequer um verso na Bíblia dizendo que o crente tem o direito de estar livre de maldade. Não existe um verso sequer que garante a nós que o mundo valorizará a igreja. Na realidade, o plano de Deus é que a igreja sofra como resultado da crescente maldade. Um dia, quando o Senhor levar sua igreja embora, o mal correrá pela terra sem restrição sob a liderança do Anticristo. Este mundo ainda não testemunhou algo tão mal, perverso e violento como aquilo que testemunhará um dia quando a influência do Espírito de Deus for removida e a Tribulação começar (2 Tessalonicenses 2.7).
Por outro lado, o que encontramos nas Escrituras é que nossa responsabilidade como crentes e igreja é brilhar a luz do amor e da graça salvadora em um mundo de trevas, implorando que os pecadores se reconciliem com Deus (2 Coríntios 5.20). Somente Cristo pode erradicar o racismo. A igreja tem o poder para demonstrar igualdade entre as pessoas de todas as etnias. Um coração redimido é capaz de começar a amar alguém de pele mais escura, mais clara ou simplesmente diferente. Esse tipo de amor não pode ser produzido pelo coração humano ou forçado sobre a raça humana. Assim como os gregos de séculos atrás, somos inclinados a amar a nós mesmos mais do que ao próximo. Entretanto, como crentes, podemos amar o próximo e o mundo ao nosso redor.
Lembre-se apenas de que um farol não elimina a tempestade. Nenhum farol alivia os ventos fortes e as águas turbulentas no meio do mar. Faróis são designados para brilhar sua luz para aqueles perdidos no meio do mar. Nosso mundo carece desesperadamente da verdade de Cristo. Enquanto isso, podemos confiar que os propósitos de Deus se desenrolam. Mesmo em meio ao caos, ele está no controle. Vamos continuar orando para que o Senhor use tempos turbulentos para trazer vidas naufragadas para o porto seguro de Cristo. Elas buscam por respostas. Vamos lhes mostrar o caminho!
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