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Dez Observações Importantes sobre a Vida de Cristo (Parte 1)

Por Doug Bookman
Professor de Antigo e Novo Testamentos e Exposição Bíblica (Shepherds Theological Seminary)
Publicado em 29 de março de 2020

O filho de Deus se beneficia grandemente quando adquire uma compreensão adequada da vida do seu Salvador. À medida que nos aproximamos da Páscoa, é nosso dever ponderar novamente a vida do Salvador que celebramos. Sugiro que as observações ou insights listados neste artigo (constituído de três partes) são essenciais para um entendimento apropriado da vida mais maravilhosa de todas. Dessa maneira, o crente deve incluir essas realidades, de forma cônscia e deliberada, em sua concepção da vida de Jesus Cristo.

Primeiro: Em sua encarnação, Jesus Cristo, em sentido, grau, momento ou época alguma, abdicou de sua divindade (Colossenses 2.9)

Na realidade, a própria noção de “abdicar da divindade” é tão incongruente a ponto de ser um absurdo. No entanto, Jesus tomou sobre si, de fato, a natureza humana genuína (Filipenses 2.6–8). Existe mistério inefável na proposição o Verbo se fez carne (João 1.14) apresentada e detalhada nos Evangelhos. Como bom despenseiro, o crente tem a responsabilidade de dobrar os joelhos diante de tudo quanto as Escrituras ensinam claramente, mesmo que existam dinâmicas e ramificações da verdade revelada que transcendem sua capacidade de compreendê-la totalmente. E as Escrituras deixam claro que a humanidade de Jesus—apesar de isenta de pecado—era genuína e plena. Portanto, quando lemos as narrativas evangelísticas sobre a vida de Jesus, é importante lembrar de que, exceto por aqueles momentos ocasionais e relativamente infrequentes quando o Espírito Santo direcionou Jesus a acessar e empregar habilidades sobre-humanas pertinentes aos seus atributos divinos, Jesus Cristo viveu sua vida debaixo das limitações reais intrínsecas à humanidade não caída em pecado.

Segundo: O ministério de três anos e meio de Jesus é melhor entendido como compreendendo duas ênfases distintas.

Os primeiros dois anos e meio são caracterizados pela Apresentação Pública. Nesse período, Jesus se apresenta à nação de Israel como seu Messias, saturando a terra, cidadela após cidadela e sinagoga após sinagoga, com suas alegações e realizando inúmeros milagres para autenticar tais alegações. Esse período inicial termina somente quando Israel revela estar determinada a rejeitar as reivindicações de Jesus, independente de a evidência que ele oferece ser convincente (veja observação número 5 mais adiante).

A Apresentação Pública é seguida por um período de Preparação Particular. Nesse momento, Jesus muda sua tática radicalmente—ele se distancia do território judeu, realiza menos milagres e se expõe às massas com menor frequência. Essa mudança ocorre porque o Senhor busca isolamento com seus discípulos, a fim de lhes revelar algo que sabe ser difícil de aceitar: a realidade de sua morte e ressurreição vindouras. Esse período de enfoque privado nos discípulos dominou o último ano da vida de Jesus, apesar de ele retornar a um foco de apresentação pública na Judeia e na Pereia no decorrer de alguns meses antes de descer para a Páscoa em Jerusalém, onde morreria.

Terceiro: No decorrer de seu ministério público, Jesus fez duas alegações explícitas acerca de si mesmo—ele afirmou ser o Messias de Israel (o Cristo) e afirmou ser Deus vindo em carne (Mateus 16.16; Marcos 14.61; João 11.27)

Essas duas alegações constituem a essência da mensagem que Jesus proclamou e desafiou os homens a crerem a seu respeito (João 20.31). É complicado para nós hoje entender como foi difícil aceitar a veracidade dessas duas afirmações. A declaração de ser o Messias foi difícil de aceitar porque, em vários aspectos, Jesus decepcionou os ideais egocêntricos que os rabinos disseminavam e que seus contemporâneos tanto sustentavam. A declaração de que ele era Deus vindo em carne foi ao mesmo tempo uma contradição e um escândalo. Por outro lado, pelo fato de Jesus viver na prática perfeitamente sua ordem para os discípulos serem prudentes como as serpentes e símplices como as pombas (Mateus 10.16–ver observação número 9 mais adiante), sua reivindicação de ser o Messias (isto é, o Rei de Israel) foi engenhosamente codificada em figuras e passagens do Antigo Testamento, de forma que sua alegação fosse nítida aos judeus, porém inócua aos líderes romanos (isso porque, caso Jesus tivesse se autoproclamado Messias/rei mais explicitamente, seus inimigos teriam se livrado dele mais depressa, pois Roma não tolerava indivíduos que posavam de rei no Império). Semelhantemente, a declaração de divindade—pedra de tropeço aos judeus, mas aos romanos menos incendiária do que a declaração de ser rei—foi formulada cautelosamente de maneira a ficar evidente aos ouvintes judeus. Por exemplo, as Escrituras insistem que somente Deus é eterno. Assim, quando Jesus afirmou ser pré-existente (João 8.58), os judeus entenderam perfeitamente que ele reivindicava ser Deus.

Parte 2 a seguir em breve.

 

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